"Geralmente, vinculamos memória apenas a lembrança, mas, por paradoxal que possa parecer, o esquecimento é um de seus fundamentos. Memória são vestígios do passado iluminados pelos olhares do presente. É passado selecionado de acordo com os interesses do hoje, com vistas a um futuro almejado. Ou seja, a memória, com suas lembranças e esquecimentos, é um ato político, inserindo-se no ambiente que determina as hegemonias, favorece as escolhas e respalda as decisões. E mais: a memória forja a identidade, ajuda a compor nossa consciência individual e coletiva.
Um esquecimento secular motivou este livro que temos a honra de apresentar aos capixabas e aos brasileiros em primeira tradução portuguesa da edição original italiana, de 1987. Para lembrar o que nunca havia sido lembrado na memória italiana, o sociólogo e jornalista Renzo M. Grosselli foi atrás das marcas deixadas no Brasil por seus co-nacionais durante as décadas finais do século XIX. Os vestígios recuperados compõem um quadro épico, revelam mais dos italianos, dos brasileiros e dos capixabas – enriquecem nossas identidades, históricas e contemporâneas". (por Paulo Hartung) SINOPSE O documentário toca num assunto esquecido e não por isso pouco importante ou delicado: a perseguição de alemães no Brasil nos anos 40, durante a Segunda Guerra Mundial. A história é simples: ao se unir aos Aliados, o Brasil passou a considerar os países do Eixo (Alemanha, Itália, Japão) seus inimigos e, portanto, japoneses, alemães e italianos passaram a ser perseguidos (em maior ou menor grau de acordo com a localidade), proibidos de falar seus idiomas em público ou divulgar suas culturas e até mesmo colocados em campos de concentração. Os documentaristas fizeram um grande trabalho de pesquisa, entrevistando centenas de pessoas em Blumenau, Pomerode, Joinville, Florianópolis, Brusque, Jaraguá do Sul, Balneário Camboriú. Também se utilizaram dos álbuns de fotos e gravações antigas das famílias entrevistadas. Visitaram os arquivos históricos das cidades e ainda pesquisaram estudos acadêmicos e livros sobre o assunto. Munida de toda esta informação, a cineasta (natural de Brusque, hoje moradora de Florianópolis e que também é descendente de alemão) fez um relato pra lá de interessante - no filme, vemos as pessoas sendo entrevistadas, fotos e imagens da época, e ainda partes encenadas (não por atores profissionais, mas por membros das famílias), estas últimas com coloração sépia, para dar aquele "clima de flashback". São várias as histórias, muitas incríveis e todas carregadas de emoção: a família que teve o carro novo que comprara com tanto custo confiscado (aqui um adjetivo técnico para "roubado") pelo governo, a família que foi pega ouvindo rádio e por isso presa, os idosos que não podiam sair de casa porque não sabiam falar português, as comunidades que tiveram que conviver com o medo, racismo e o quase- total esquecimento de suas origens, etc. SINOPSE Imigrantes japoneses e suas famílias tiveram 48 horas para abandonar a cidade litorânea por ordem do presidente Getúlio Vargas. Em pleno inverno, comboios trouxeram mais de 5000 pessoas para a Hospedaria dos Imigrantes em São Paulo. A Família Moriguchi foi uma destas famílias que deixaram tudo em Santos para recomeçar uma nova vida, enfrentando a discriminação, a xenofobia e a repressão do Estado Novo. O relato de Inácio Moriguchi foi concedido ao jornalista Masayuki Fukasawa e ao idealizador do Projeto ABRANGÊNCIAS, Mario Jun Okuhara. RESUMO
Esta pesquisa dedicou-se ao estudo dos campos de concentração brasileiros na Era Vargas e do sistema legal que o amparou, para compreender de que maneira tais institutos se organizaram e encontraram legitimação no país. Inicialmente, buscou-se compreender o contexto histórico e os primeiros campos brasileiros, organizados para conter a migração em uma época de seca, para serem incrementados a partir da mudança de postura do governo Vargas diante dos imigrantes, que deveriam, então, ser nacionalizados. Na sequência, viu-se que o confi namento de italianos, alemães e japoneses, ou seus descendentes, nos campos de concentração, atendia não apenas às pretensões varguistas para o Estado nacional, mas também agradava aos parceiros internacionais na guerra, em especial os Estados Unidos. Por fi m, esta pesquisa demonstrou como a ditadura iniciada em 1937 com o Estado Novo, em especial com a Constituição outorgada de 1937, deu subsídios jurídicos para a centralização de poder nas mãos do presidente, que governaria por meio de decretos até sua deposição. Uma vez que o país entrou em guerra ao lado dos Aliados, ocorreu a decretação do estado de guerra que derrubou direitos constitucionais antes garantidos aos estrangeiros e permitiu que estes fossem perseguidos e internados em campos de concentração. Palavras-chave: Estado Novo. Constituição de 1937. Campos de Concentração. R. Opin. Jur., Fortaleza, ano 17, n. 25, p. 13-36, maio/ago. 2019. RESUMO
Este artigo analisa a política repressiva contra os trabalhadores estrangeiros no Brasil durante o Estado Novo, quando os grupos imigrantes que podiam ser caracterizados pelo isolamento racial e cultural são descritos como “quistos étnicos” e investigados pelo Conselho de Imigração e Colonização. No contexto da Segunda Guerra Mundial, os debates sobre assimilação e miscigenação seriam influenciados também pela classificação dos trabalhadores imigrantes como uma ameaça militar. Palavras-chave: Identidade étnica; Conselho de Imigração; Colonização. Resumo
Este artigo apresenta uma leitura das políticas linguísticas do Estado Novo, e seus mecanismos de controle, especialmente no que tange as línguas italianas faladas por imigrantes italianos e seus descendentes em Santa Catarina, a partir do conceito de biopolítica (FOUCAULT, 2005). Dentro do projeto de nacionalização promovido pelo Estado Novo, criouse a imagem de um inimigo comum, o estrangeiro, e uma das políticas postas em ação era a interdição das línguas estrangeiras. O que este trabalho discute é como se dá a interferência do Estado não apenas por meio das leis, mas a partir de mecanismos de controle e vigilância que se espraiam por entre os indivíduos, seguindo a lógica do panóptico (FOUCAULT, 1987), a partir da qual o poder incide diretamente sobre os corpos produzindo corpos dóceis. No caso dos imigrantes italianos em Santa Catarina, essas políticas resultaram no apagamento de várias línguas italianas trazidas pelos imigrantes, além do desenvolvimento de uma conotação negativa para o termo “colono”, que perdura até os dias atuais e contribuiu para a construção de uma imagem negativa sobre os descendentes de imigrantes italianos. Palavras-chave: Políticas Linguísticas; Biopoder; Língua Italiana; Imigração. Revista da Anpoll, v. 1, n. 51, p. 71-82, Florianópolis, Jan./Maio 2020. RESUMO
O artigo trata da entrada de refugiados judeus no Brasil durante o Estado Novo, com base na produção de uma carta escrita por Oswaldo Aranha e citada pela historiografia que se debruçou sobre o assunto. Trata também das interpretações e explicações que surgiram quando o documento foi publicado e as respectivas construções de memória em torno do tema. Palavras-chave: Estado Novo; imigração; refugiados judeus; construções de memória. Acervo, Rio de Janeiro, v. 30, n. 2, p. 71-88, jul./dez. 2017. Resumo
Nosso envolvimento com a temática da imigração polonesa no Brasil tem sido conduzido através de nossas pesquisas de mestrado concluídas e de doutorado em andamento. Neste processo, como em qualquer caminho de pesquisa, ao visitar acervos históricos nos deparamos com uma riqueza de fontes que nos impulsionam a ampliar os horizontes de pesquisa a partir de novos questionamentos. Assim, propomos para este texto, a partir de fontes como documentos públicos e privados da Nacionalização contidas na Pasta “Nacionalização” do Arquivo dos Padres da Congregação da Missão de São Vicente de Paulo em Curitiba–PR, realizar uma reflexão sobre a Campanha de Nacionalização e a restrição nos processos de sociabilidade étnica entre os imigrantes poloneses no sul do Brasil, mais especificamente em Curitiba-PR, tendo como foco a União das Sociedades Oswiata. A Oswiata, instituição de caráter católico-clerical, congrega e orienta durante a primeira metade do século XX, sociedades escolares, culturais e esportivas ligadas ao grupo étnico em vários locais do país. O período histórico definido como Estado Novo (1937-1945), ao dar amplitude para a nacionalização compulsória, fez com que a Oswiata, assim como outras iniciativas étnicas no Brasil, sofresse restrições nos seus processos de sociabilidade, dadas por uma fiscalização sistemática e censura efetiva, tanto na produção de materiais de notícias e informes, quanto na imprensa pedagógica e nas atividades sociais, educacionais e culturais e uso da língua materna. Estas particularidades são emergências necessárias para a historiografia e para o desvelamento de questões que ainda permanecem sem maiores aprofundamentos. Palavras-Chave: Sociabilidade Étnica; União das Sociedades Oswiata; Nacionalização; Polono-Brasileiros Revista Semina, v. 16, n. 2, 2017. RESUMO
A partir de uma pesquisa em fontes primárias das instituições centrais associadas à imigração judaica em São Paulo e Rio de Janeiro, este artigo mostra como, durante o Estado-Novo e a Segunda Guerra Mundial, as entidades judaicas funcionaram de forma corriqueira, adaptaram-se às restrições nacionalistas do governo Getúlio Vargas e, muitas vezes, engendraram estratégias sofisticadas para enfrentar a lei e a ideologia. Esta perspectiva de história social e do cotidiano evidencia, portanto, uma leitura distinta daquela que — analisando exclusivamente a lei, a ideologia e o preconceito do regime Vargas — considera que havia um clima de medo e perseguição generalizado entre os imigrantes judeus residentes no País. Este artigo mostra, complementarmente, que 1937-1945 foram anos decisivos para a implantação de uma comunidade etnicamente ativa e para a sedimentação de uma identidade judaico-brasileira. Palavras-chave: Estado-Novo; imigração judaica; Segunda Guerra Mundial. Revista Brasileira de História, São Paulo, v. 22, n. 44, pp. 393-423, 2002. |
Categorias
Tudo
arquivos
Fevereiro 2024
|