"QUANDO INICIAMOS A INVESTIGAÇÃO acerca do imigrante espanhol, há décadas atrás, pretendíamos recuperar aspectos que pudessem singularizar esse contingente que, apesar de ser considerado a terceira maior corrente a desembarcar no Brasil no período da imigração em massa, mantinha-se silenciado pela historiografia. De fato, ofuscado pelo italiano, de inegável superioridade numérica, o imigrante espanhol, cujos números, baseados nas estatísticas locais, atingiram meio milhão de indivíduos, ingressados especialmente na primeira vintena dos Novecentos, permanecia como coadjuvante, como personagem de uma história de reticências. As estatísticas espanholas revelam, em geral, a metade dos números oficiais brasileiros. Embora elevadas, essas cifras, desencontradas, podem ser atribuídas ao movimento clandestino que campeou no período. Mais que tudo, a clandestinidade registrada era indicativa de sintomas sociais mal resolvidos, o que, em contrapartida, obrigava os sujeitos a se evadirem clandestinamente, sem passar pelo controle oficial espanhol, por portos estrangeiros - franceses e portugueses, se considerados os espanhóis do norte, mas especialmente por Gibraltar, que era colônia inglesa e que, portanto, não sofria a tutela das autoridades espanholas, e, nesse caso, da grande massa que veio do sul, em especial da Andaluzia. Desse modo, quer se considere a cifra oficial local ou aquela elaborada pelos portos de saída espanhóis, sabe-se que desse (suposto) montante de espanhóis que ingressou no Brasil nesse período, de cada quatro, três deles se destinavam ao Estado de São Paulo, e desse total, 80% se dirigiam para as zonas cafeeiras que rasgavam o Oeste Paulista, conforme procuramos evidenciar abaixo. Era estreita, portanto, a relação entre essa emigração e a nossa agressiva e eficiente política oficial de arregimentação em larga escala, com tentáculos bem articulados em toda a Europa, que assim pretendia irrigar com mão-de-obra farta e, portanto, barata, a lavoura cafeeira do Estado de São Paulo, então em franca expansão. Tal política, alicerçada no financiamento da passagem dos emigrantes, desde que constituídos em grupos familiares, foi chamada de "imigração subsidiada". Mas, apesar disso, apesar de o espanhol ter representado no cômputo geral do período o terceiro maior contingente emigrado, muito pouco se conhecia dessa corrente, de sua trajetória, quer seja no colonato (nas fazendas de café), ou mesmo da trajetória urbana. Assim, num primeiro momento, e evocando as reais motivações que arrastaram essa verdadeira onda humana a atravessar o Atlântico (mão-de-obra para as fazendas de café), buscamos delinear a sua trajetória no colonato, ou seja, buscamos focalizar o grupo que havia se fixado no núcleo cafeeiro do Oeste Paulista."
In: De colonos a imigrantes - I(E)migração portuguesa para o Brasil. ARRUDA, José Jobson de Andrade, FERLINI, Vera Lucia Amaral, MATOS, Maria Izilda Santos Matos, SOUSA, Fernando (orgs.). São Paulo: Alameda, 2013, p. 131-145 Your comment will be posted after it is approved.
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