"O livro que ora se apresenta se originou da tese de doutorado 'O Brasil, o Império Otomano e a Sociedade Internacional: Contrastes e Conexões', defendida no Programa de Pós -Graduação em História, Política e Bens Culturais da Fundação Getúlio Vargas em agosto de 2012. A pesquisa em questão envolveu seis meses de estudos e investigação intensa na Turquia, além de ampla pesquisa em acervos brasileiros e participação em eventos acadêmicos internacionais.
O interesse pelo tema, surgiu, sobretudo, pela ampla discussão a respeito das mudanças na Ordem Global no novo milênio, em que se testemunhava um relativo declínio da Europa e a ascensão de países emergentes tais como Brasil e Turquia. No caso da última, seu ativismo diplomático chegou a ser denominado de 'neo-otomanista', por reativar conexões do passado imperial. Como já dito por Benedetto Croce, toda história é contemporânea. Olhamos para o passado a fim de responder a importantes questões do presente. Este livro se volta ao século XIX para evidenciar o modo que o Brasil e o Império Otomano negociaram acesso e reconhecimento de uma sociedade internacional de cunho europeu e em vias de expansão global. Ambas eram entidades que se buscavam estabelecer como independentes em um sistema profundamente marcado pela assimetria de poder, status e ranking. No processo, desenvolveram instrumentos para aceder ao mundo da diplomacia e conectaram -se por força de vetores materiais como comércio e migrações, mas também imagens e o perfil de suas representações diplomáticas. As perguntas de pesquisa propostas são: como o Brasil e o Império Otomano negociaram acesso à sociedade internacional dos estados soberanos centrada na Europa? Quais resultados esperados e inesperados surgiram desse processo? Como e por que esse período coincidiu com o aparecimento das primeiras conexões entre essas entidades periféricas? Meu objetivo é avaliar as relações do Brasil e do Império Otomano com a sociedade internacional no período que vai de 1850 a 1919, e estudar o início do contato entre ambos. Por um lado, mostro que o exercício de busca por adesão aos rituais, práticas e símbolos diplomáticos europeus criou relações assimétricas com o centro da sociedade internacional europeia. Por outro, revelo como esse processo deu origem a contatos diplomáticos entre as duas entidades, que rapidamente seriam assoberbadas por levas imigratórias. Ao fazê-lo, sugiro que o processo de transformação da sociedade internacional europeia em sociedade internacional global deve ser compreendido, em boa medida, como uma dinâmica que gerou fluxos entre países do hoje chamado Sul Global, um aspecto do processo de globalização da sociedade internacional que a literatura especializada tende a ignorar devido à ênfase quase exclusiva no alargamento do escopo imperial do centro europeu do sistema internacional da época." Your comment will be posted after it is approved.
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Abril 2023
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