"O patrimônio cultural dos imigrantes que se deslocaram para Santa Catarina durante os séculos XIX e XX, em especial entre 1850 e 1930, é de significância mundial. Mescla tradições e conhecimentos de culturas milenares, vindas de vários continentes, adaptados às condições da história, da cultura e da geografia locais. Na visão da época, o território era pouco ocupado populacionalmente, uma vez que se desconsiderava totalmente a presença indígena e mesmo a cabocla. A primeira era fruto de povoamento de aproximadamente cinco mil anos, e a segunda, com origem nas bandeiras paulistas, incrementara-se ao longo das diversas variáveis dos caminhos das tropas. Na visão oficial, consideravam-se apenas os moradores afro-luso-brasileiros, que estavam concentrados na estreita faixa litorânea e na isolada vila de Lages, fazendo com que praticamente todo o vasto interior do estado fosse colocado à disposição dos empreendimentos coloniais. Muitas dessas colônias fixaram-se isoladamente, formando as chamadas ilhas culturais e guardando muito do patrimônio dos pioneiros e de seus descendentes. Paisagens urbanas e rurais, que mesclam elementos naturais – da fauna, da flora e da geografia – e áreas de cultivos e pastagens; arquitetura, técnicas, materiais e detalhes construtivos; conhecimentos agrícolas, culinária, festas, tradições, estórias, folclore, dialetos, saberes e fazeres em geral fazem parte do vasto patrimônio cultural do interior de Santa Catarina. Estudiosos alemães consideram que o patrimônio germânico mais importante do mundo, fora da Europa, está em Santa Catarina. O legado de portugueses, afro-descendentes, italianos, poloneses, ucranianos, austríacos, húngaros e russos, entre outros, é também um dos mais significativos. É a partir desse universo cultural que o presente trabalho propõe o desenvolvimento de uma política de amplo reconhecimento e proteção. Partindo das células básicas desse patrimônio – que são as pequenas propriedades rurais –, estudando as casas que abrigavam as famílias, os ranchos que viabilizavam a subsistência, os núcleos rurais e os centros urbanos, o projeto busca proteger as evidências maiores do extraordinário ciclo migratório ocorrido no Brasil e extremamente bem representado em Santa Catarina. Os bens selecionados para proteção representam a trajetória de vida dos milhares de seres humanos que idealizaram, nessa parte do mundo, dias melhores para si e para suas famílias. Que o legado dos homens, mulheres e crianças que escolheram passar aqui a sua existência seja reconhecido pelos brasileiros de hoje e possa ser transmitido aos cidadãos do futuro: eis o objetivo maior deste projeto". O seu comentário será publicado depois de ser aprovado.
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Julho 2023
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