Estimados e estimadas,
Na terça-feira, dia 15, foi enviada a última newsletter deste ano. As próximas começam a ser enviadas a partir de janeiro. Neste intervalo, estão todos convidados a acompanhar o Imigração Histórica pelo site ou pelas redes sociais. Estou escrevendo para transmitir, de coração, meus melhores votos e sinceros agradecimentos a todos vocês. Este ano foi dramaticamente moldado pela pandemia COVID-19, e ainda continuamos atentos e focados na segurança da nossa família, dos amigos e de todas as pessoas, pois a pandemia continua a ter um impacto a curto e longo prazos. Apesar de todos os desafios, acredito que temos muitos motivos para ter enorme orgulho de nossas realizações, nossos laços são mais fortes do que pensamos e mais fortes do que tudo aquilo que às vezes nos divide. É fundamental que nos esforcemos para ter consideração: prestar atenção, ouvir verdadeiramente e mostrar compreensão pelo outro. Ao entrarmos em um ano novo, somos desafiados a abraçar o novo; precisamos de coragem. O desejo mais sincero que posso fazer a todos neste Natal e Ano Novo é que nos livremos deste terrível coronavírus, e possamos voltar às nossas vidas anteriores o mais rápido possível. Vivemos em uma época de turbulência, dinâmica e contraditória, mas podemos e devemos fazer de tudo para que nossas vidas mudem para melhor. Boas festas a todos e todas! Abraços fraternos e gratidão. Rosane Teixeira #COVID-FREE2021 O tema "imigração e futebol" (newsletter - 29/06/2020) foi escolhido com o intuito de homenagear José Renato de Campos Araújo, professor-doutor na Escola de Artes, Ciências e Humanidades, EACH-USP (Leste), que, no dia 31 de janeiro de 2019, de maneira brusca e inesperada, cerrou os olhos para sempre. Tive a honra de tê-lo como membro da banca examinadora de defesa da minha tese de doutorado. José Renato foi influente pesquisador dos estudos migratórios. Entre suas obras, destaco "Imigração e futebol: o caso do Palestra Itália", fruto da dissertação de mestrado defendida na UNICAMP em 1996, coeditada pela FAPESP e Editora Sumaré, publicada em 2000. Trata-se de preciosa contribuição à história da imigração italiana no Brasil, obra de referência de inestimável valor. Em 2008, José Renato concedeu rica entrevista à Cidade do Futebol (Universidade do Futebol) abordando o tema desenvolvido em seu livro, cujo texto transcrevo a seguir. José Renato de Campos Araújo, cientista social, por Guilherme Costa O Palestra Itália mudou seu nome para Palmeiras em 1942, no auge da Segunda Guerra Mundial, como forma de “nacionalização” – Brasil e Itália eram rivais no confronto. Entretanto, o fato de a torcida alviverde ostentar até hoje as cores da bandeira italiana nos estádios, a despeito de o clube usar apenas o verde e o branco, mostra a importância da colônia do país europeu para a consolidação e a popularização do clube. O processo de fundação e afirmação do Palestra Itália reflete um momento importante para a comunidade italiana no Brasil. O país europeu vivia um momento de unificação e o surgimento de uma instituição que representava todas as regiões foi fundamental para o desenvolvimento dessa ideia entre os imigrantes. Essas duas ideias mostram o quanto a fundação do Palestra Itália é indissociável do processo de consolidação da comunidade italiana em São Paulo. E vice-versa. Com base nisso, o cientista social José Renato de Campos Araújo desenvolveu uma tese de mestrado focada no caso Palestra Itália para abordar a relação entre imigração e o futebol. Campos de Araújo defendeu a tese em 1996, e esse trabalho deu origem ao livro “Imigração e futebol: o caso Palestra Itália”. Lançada em 2000, a obra faz um paralelo entre o desenvolvimento do clube e da comunidade italiana em São Paulo durante o fim do século XIX e a primeira metade do século XX. Mais do que traçar um raio-X da comunidade italiana e da fundação de um dos clubes mais populares do país, Campos de Araújo fez uma análise sociológica da importância que o futebol teve para a criação de um sentimento de unidade da comunidade italiana no Brasil. Essa análise pode ser acompanhada em entrevista exclusiva de Campos de Araújo, que é coordenador do curso de gestão de políticas públicas da Escola de Artes, Ciências e Humanidades da Universidade de São Paulo, à Cidade do Futebol. Confira a seguir a íntegra da conversa: Cidade do Futebol – Como surgiu a ideia de relacionar o Palestra Itália e uma análise sobre o processo de imigração? José Renato de Campos Araújo – Esse livro foi publicado em 2000, mas é fruto da dissertação de mestrado que eu defendi na Unicamp em 1996. É necessário frisar que o meu objeto de pesquisa foi o Palestra Itália, mas o objetivo era entender o processo de imigração. Eu participava como estagiário de um grupo que estudava a história social da imigração em São Paulo, que era liderado pelo professor Sérgio Miceli e depois passou a ser comandado pelo Bóris Fausto. Foi aí que eu defini o Palestra Itália como meu objeto de estudo.
Cidade do Futebol – Essa característica de união da comunidade já fazia parte do clube desde a fundação? José Renato de Campos Araújo – Sem dúvida. Até o nome demonstra isso. Enquanto a maioria das instituições ligadas a italianos até aquela época optava por referências a regiões, o clube era Palestra Itália. A ideia de representar todo o país foi uma novidade e uma coisa importante para o momento. Por conta disso, o Palestra tem uma trajetória um pouco diferente da maioria das equipes. Ao contrário do Corinthians, por exemplo, o Palestra nunca foi um time de várzea. Desde o início, o objetivo era disputar campeonatos. Cidade do Futebol – Por que os italianos elegeram justamente o futebol como forma de criar essa identidade nacional? José Renato de Campos Araújo – O futebol já era um esporte importante para a Itália naquela época. Alguns times do país haviam até realizado excursões para o Brasil. Além disso, São Paulo vivia um período de boom demográfico. Isso deu origem a uma série de instituições que representavam colônias, como o Germania e o Internacional, que tentava reunir todos os imigrantes. O Palestra foi o caso mais famoso nesse sentido, até porque a colônia italiana era a mais numerosa. Cidade do Futebol – Qual era o perfil dos fundadores do Palestra? Havia uma ligação com algum grupo étnico ou social dos italianos ou era algo realmente aberto a toda a comunidade? José Renato de Campos Araújo – Naquela época, o futebol era um esporte praticado pela elite e os imigrantes não participavam tanto. Os atletas eram filhos de alemães ou ingleses, e o Palestra surgiu com a ideia de reunir os italianos. Os criadores desse conceito foram empregados da família Matarazzo. Eles buscavam legitimidade e até uma ascensão social por meio do futebol. Aliás, essa popularidade é um fator interessante. O Palestra conseguia levar uma média de 30 mil espectadores para suas partidas naquela época, quando São Paulo tinha cerca de 1 milhão de habitantes. Era um clube que penetrava todas as classes sociais em uma época em que o futebol ainda era uma prática diletante, restrita aos mais abastados. Cidade do Futebol – Que tipo de reação esse perfil do público que acompanhava o Palestra gerou na época? José Renato de Campos Araújo – Houve um enorme estranhamento. Naquela época, o público se portava de maneira muito diferente nos estádios. A torcida do Palestra é descrita pelos jornais como um grupo que aplaudia uma só equipe. Na época, isso era considerado contra o ideal do espetáculo. Cidade do Futebol – Esse perfil popular foi resgatado de alguma forma em 1942, na mudança de Palestra para Palmeiras? José Renato de Campos Araújo – Sim. O número de entradas de imigrantes no Brasil já havia caído vertiginosamente, mas a comunidade era significativa. Quando houve a Segunda Guerra Mundial e o Brasil tomou partido contra a Itália, houve uma necessidade de nacionalização. Por isso a escolha do nome Palmeiras, que era uma árvore nacional. Foi nessa época também que o clube aceitou o primeiro mulato, Og Moreira, algo inédito em São Paulo até então. Só que há uma dificuldade enorme para termos informações sobre esse período. Primeiro porque esse é um dos poucos momentos da história em que a família Mesquita não comandava o Estadão. O jornal tinha um interventor do DIP e a imprensa inteira estava sob censura do governo Vargas. Além disso, era o auge da guerra e o Brasil importava 100% do papel de jornal. Isso reduziu demais o espaço para as notícias, principalmente de esportes. SOBRE UNIVERSIDADE DO FUTEBOL A Universidade do Futebol é uma instituição criada em 2003 que estuda, pesquisa, produz, divulga e propõe mudanças nas diferentes áreas e setores relacionados ao universo do futebol. Para celebrar o Dia Mundial do Refugiado, selecionei uma reportagem do CanalSur, Andalucia Televisión, e uma matéria publicada no site da ACNUR-Brasil. REPORTAGEM "Informe sobre la tragedia de los refugiados en el mundo", por Belén Torres, Programa Solidarios, 167, Andalucia Televisión, 24/06/2016 "En el día del refugiado ACNUR informa que hay 65 millones de refugiados y desplazados en el mundo. Mientras tanto en Europa se han multiplicado las reuniones, se han elevado las fronteras y el Mediterráneo se ha convertido en un cementerio para las 3500 personas que han muerto en el último año al intentar llegar a Europa. ACNUR ha comenzado una campaña para recoger un millón de firmas y conseguir que los gobiernos se impliquen en la crisis de los refugiados". As imagens são impactantes, causam comoção e tristeza. MATÉRIA - Genebra, 18 de junho de 2020 "Relatório global do ACNUR revela deslocamento forçado de 1% da humanidade", por ACNUR-BRASIL A Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) faz hoje um apelo a todos os países do mundo para que intensifiquem os esforços de encontrar um lar para milhões de refugiados e outras pessoas deslocadas por conflitos, perseguições ou outros eventos que perturbam seriamente a ordem pública. De acordo com relatório do ACNUR divulgado hoje, o deslocamento forçado afeta mais de 1% da humanidade (uma em cada 97 pessoas), sendo que um número cada vez menor de pessoas forçadas a fugir consegue voltar para suas casas. O relatório anual do ACNUR “Tendências Globais ”, lançado dois dias antes do Dia Mundial dos Refugiados (20 de junho), revela que 79,5 milhões de pessoas estavam deslocadas até o final de 2019 por guerras, conflitos e perseguições – um número sem precedentes, jamais verificado pelo ACNUR. O relatório também observa que são cada vez mais reduzidas as perspectivas que os refugiados têm de encontrar soluções para a difícil situação na qual se encontram. Nos anos 1990, em média 1,5 milhão de refugiados conseguia voltar para casa anualmente. Na última década, essa média caiu para cerca de 390 mil pessoas, demonstrando que o crescimento no deslocamento forçado supera as capacidades de solução. “Testemunhamos uma nova realidade na qual o deslocamento forçado não é mais simplesmente algo que cresce e se espalha, mas deixou se ser um fenômeno temporário e de curto prazo”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi. “Não se pode esperar que as pessoas vivam em um estado de convulsão por anos a fio, sem chances de voltar para casa e sem esperança de construir um futuro onde estão. Precisamos de uma atitude fundamentalmente nova, com maior aceitação a todas e todos que são forçados a fugir, e determinação muito maior para resolver os conflitos que duram anos e que causam um sofrimento tão imenso.” O relatório do ACNUR “Tendências Globais 2019” mostra que, das 79,5 milhões de pessoas que se encontravam deslocadas à força no final do ano passado, 45,7 milhões tiveram que fugir para regiões dentro de seus próprios países (categorizados como deslocados internos). As demais incluem pessoas deslocadas para outros países, das quais 4,2 milhões aguardavam o resultado dos pedidos de reconhecimento da condição de refúgio, enquanto 29,6 milhões estavam reconhecidas como refugiadas (26 milhões, de acordo com o relatório) e deslocadas fora do seu país de origem. O crescimento anual (eram 70,8 milhões de pessoas em deslocamento forçado no final de 2018) é resultado de dois principais fatores. O primeiro são os preocupantes novos deslocamentos que ocorreram em 2019, particularmente na República Democrática do Congo, na região do Sahel¹, no Iêmen e na Síria – que entrou em seu décimo ano de conflito e contabiliza, sozinha, 13,2 milhões de pessoas refugiadas, solicitantes da condição de refugiado e pessoas deslocadas internamente, totalizando um sexto dos deslocados no mundo. A segunda reflete a situação dos venezuelanos fora do país, muitos dos quais não estão legalmente registrados como refugiados ou solicitantes de refúgio, mas para quem são necessários sensíveis arranjos que assegurem sua proteção. E, dentro de todos esses números, há inúmeras crises individuais e muito pessoais. O número de crianças deslocadas (entre 30 e 34 milhões, sendo dezenas de milhares desacompanhadas) é tão grande quanto as populações da Austrália, Dinamarca e Mongólia juntas. Enquanto isso, a proporção de pessoas com 60 anos ou mais entre a população deslocada (4%) está muito abaixo da população mundial (12%) – refletindo a imensurável dor, desespero e sacrifício de se separar dos seus entes queridos. 8 coisas que você precisa saber sobre deslocamento forçado
NOTA FINAL: O relatório do ACNUR “Tendências Globais” é divulgado em paralelo com o Relatório Global anual, que reúne as ações que o ACNUR está tomando para atender às necessidades de todas as pessoas forçadas a fugir, incluindo as populações apátridas no mundo. ¹O Sahel (do árabe ساحل, sahil, que significa “costa” ou “fronteira”) é uma faixa de 500 a 700 km de largura, em média, e 5.400 km de extensão, entre o deserto do Saara, ao norte, e a savana do Sudão, ao sul; e entre o oceano Atlântico, a oeste, e ao mar Vermelho, a leste. No Dia Internacional da Mulher, reitero minha defesa intransigente das conquistas e direitos femininos. Parabéns mulheres!
O Natal está chegando. Pessoas de diferentes origens se reúnem e compartilham tradições. No entanto, nem todas as pessoas celebram o Natal. Como valorizar as diferenças sem ofender as diferentes crenças? Valorizar significa aceitar e respeitar as diferenças entre e dentro das culturas.
Aos que celebram o Natal, meus sinceros votos de Feliz Natal. Para aqueles que não comemoram este dia, dirijo as minhas mais calorosas saudações. Agradeço aos estimados seguidores, amigos e a todos que visitaram o Imigração Histórica durante o ano de 2019. Desejo que 2020 seja um ano de renovar afetos, multiplicar simpatias, promover a alegria, desenvolver a empatia e respeitar a diversidade, para construirmos um mundo mais justo. |
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