RESUMO
O Brasil do século XIX teve no escravismo o sórdido combustível dos motores que movimentavam a máquina agrícola e, consequentemente, a sua economia. Nesse contexto, além da evidente exploração africana, o lugar foi palco de outra modalidade de exploração humana, desta vez envolvendo a migração de portugueses açorianos para este país. O assunto foi amplamente representado na ficção e na política portuguesa oitocentista e pouco abordado no contexto brasileiro. A proibição do tráfico africanos para terras brasileiras demandou a criação de uma alternativa para a substituição da força negra nas lavouras, o que consistia em atrair gente do paupérrimo Portugal insular para terras sul-americanas. De pouca instrução, prioritariamente analfabetos, muitos ilhéus eram trazidos ao Brasil, voluntária e involuntariamente, em porões de navios sob condições tão degradantes quanto as que seriam encontradas/enfrentadas neste país-destino. Iludidos por contratos de trabalho dos quais dificilmente se livrariam, os então denominados engajados eram negociados nos portos de chegada tais quais cargas de mercadoria viva e raramente retornavam ao seu solo natal; quando o faziam, desembarcavam em Portugal tão ou mais pobres do que quando deixaram aquele país. Esse processo de aliciamento, cunhado na história portuguesa como “escravatura branca”, foi retratado em diversos textos literários produzidos em território lusitano, dos quais destacam-se as peças Aleijões sociais (1850), de Francisco Gomes de Amorim e Paulo e Maria (ou A escravatura branca) (1858), assinada por F. J. da Costa Braga. Os dois textos ficcionais foram levados a público com o propósito de alertar os portugueses sobre a discrepância entre o sonho do eldorado prometido pelos engajadores aos candidatos a colonos e a armadilha que significava aceitar se submeter aos contratos abusivos que os conduziriam ao Brasil. Em meio aos seus enredos, esses textos ilustraram aspectos do dia a dia de uma gente expatriada pela pobreza e explorada pela ganância de latifundiários brasileiros e intermediadores dessa modalidade de migração, assunto que suscita um debate oportuno e necessário até os dias atuais. Palavras-chave: Emigração; escravatura branca; dramaturgia portuguesa; século XIX. VII Colóquio Internacional Sul de Literatura Comparada. Porto Alegre, UFRGS, 2017. Your comment will be posted after it is approved.
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