"Nos últimos anos, as novas correntes historiográficas ligadas à micro-história revalorizaram as trajetórias dos indivíduos comuns e mostraram como sua análise pode ser um caminho para a compreensão da História. É esse tipo de exercício que pretendo fazer aqui, ao tomar como ponto de partida em direção ao passado um casal que, nos anos 1930, adotou como residência a Chácara do Paraíso, em Nova Friburgo, estado do Rio de Janeiro.
O casal formado por Vicente Ferreira de Moraes e Adelaide (Pequenina) das Neves Marques Braga foi produto, antes de mais nada, de uma rede de relações entre grupos familiares que no início do século XX estavam integrados à sociedade de Nova Friburgo. Entre seus ancestrais destacam-se algumas figuras-chave, cuja trajetória a pesquisa permitiu reconstituir. Assim, do lado de Pequenina, temos Marianne Joset Salusse, imigrante suíça que fez parte do conjunto de fundadores de Nova Friburgo em 1820; José Antônio Marques Braga, filho de um imigrante português de Braga estabelecido como armador no Rio de Janeiro nas décadas de 1820 e 1830; Adelaide (Zinha) das Neves Marques Braga, filha do político Galdino Emiliano das Neves e neta de um comerciante de São João del Rei imigrante dos Açores, neta também de outro político do Império, Getúlio Monteiro de Mendonça, por sua vez filho de um “professor régio de latim, poeta e comediógrafo”, natural de Lisboa, que no fim do século XVIII se instalou em Cuiabá. Do lado de Vicente, a grande figura é o tropeiro mineiro João Antônio de Moraes, que se tornou um grande fazendeiro da região de Cantagalo e terminou seus dias como barão do café. Em torno desses, surgiram vários outros personagens que foram complexificando a teia de relações de parentesco e cujas histórias singulares permitem perceber circunstâncias e conjunturas da história do Brasil. Com base em suas trajetórias é possível identificar estilos de vida, visões de mundo, estratégias de ascensão social e de acumulação de riqueza. O acompanhamento de suas histórias de vida permite, enfim, captar aspectos importantes da gestão de seu cotidiano e das lutas travadas na exploração e construção de uma nova terra e de um novo país." "(...) não procuro aqui desenvolver algum novo conceito que pretensamente abarque a totalidade da população judaica. A impossibilidade de utilizar um único conceito para definir os judeus torna de especial interesse analisar as negociações em torno da identidade judaica em um contexto geográfico e temporal específico: o Brasil (e especificamente Curitiba) nas décadas imediatamente posteriores ao Holocausto e a Segunda Guerra Mundial, que além de exterminar grande parte da população judaica e deslocar boa parte da população sobrevivente, também provocou profundas mudanças na identidade desses sujeitos e nas suas relações com as sociedades circundantes. Para além disso, acredito que, justamente por esse caráter híbrido e mutável da identidade judaica, tal caso possa provocar reflexões e questões acerca das negociações identitárias no Brasil de modo mais amplo – em especial em relação a grupos minoritários. Até por isso acredito que o trabalho possa responder algumas questões, mas principalmente abrir outras para o futuro."
"No âmbito da Coleção Por dentro do Estado de São Paulo este volume é dedicado ao Perfil dos Imigrantes no Pós-Segunda Guerra Mundial sintetizando informações provenientes do banco de dados Pós-WAR II. Este banco de dados foi construído a partir da documentação presente no Memorial do Imigrante/SP, objetivando analisar a dinâmica dos “novos” fluxos migratórios para São Paulo no período Pós-Segunda Guerra Mundial, particularmente, a inserção de trabalhadores considerados como mão de obra qualificada oriundos da Europa e do Japão, em resposta ao crescimento da demanda por esse tipo de trabalhadores para a indústria e agricultura que se mecanizavam, especialmente, no estado e na cidade de São Paulo."
Campinas (SP): Núcleo de Estudos da População - NEPO/Universidade Estadual de Campinas; Faculdade Anhembi Morumbi; Universidade Federal de São Paulo, 2013.
SINOPSE
O sequestro e a escravização de milhões de pessoas na África para as Américas entre os séculos XVI e XIX marcam profundamente as nações do Caribe, Brasil e Estados Unidos, criando uma diáspora negra no continente, com consequências traumáticas para essas populações e com marcas perenes nas relações sociais e culturais desses países. Mesmo atravessados por injúrias raciais de todo tipo, porém, os negros construíram uma forte resistência com marcas culturais identificadas tanto com suas terras de origem quanto, como mostram Kim Butler e Petrônio Domingues, entre as comunidades negras do continente criando laços interatlânticos. Evocar “diáspora” é afirmar historicamente uma identidade que transcende as fronteiras do Estado-nação. Essa forma de consciência, comumente associada à experiência judaica, tem sido adotada progressivamente por outros povos na atualidade. Evocar diáspora não é só recordar uma história de dispersão de uma terra ancestral – também implica formas alternativas de poder. Nesta obra, os historiadores Kim D. Butler (EUA) e Petrônio Domingues (Brasil), além de evidenciarem como se configura, na teoria acadêmica e na prática dos ativistas, a noção de “diáspora africana”, apontam a influência mútua existente entre Brasil-EUA já nas primeiras décadas do século XX envolvendo intelectuais, instituições e lideranças, como Marcus Garvey e a Frente Negra Brasileira, e o importante papel desempenhado por artistas como Josephine Baker e pelo carnaval baiano que, ao transcriarem aspectos da cultura africana em performances inusitadas, redefiniram paradigmas político-culturais e sociais e forjaram as feições das Diásporas Imaginadas. Caso queira adquirir o exemplar, clique na imagem. "O mundo está num momento em que mais do que nunca precisamos refletir sobre o tema imigração para, com isso, projetar políticas imigratórias mais humanas para o Brasil. Com a globalização e a porosidade das fronteiras nacionais, o Brasil acabou recebendo um crescente número de estrangeiros que vem ao país por razões bem variadas, desde o turismo, residência, refúgio, exílio, causas naturais e outras. Governos que almejam dar ao país um papel protagonista na política regional e mundial devem receber mais pessoas de fora e de forma condizente, criando políticas públicas para este grupo se adaptar ao estilo brasileiro e terem condições satisfatórias de vida. Poucos estudos foram realizados de maneira sistemática sobre o impacto que estas recentes correntes imigratórias tiveram no Brasil." Documentos coletados no Archivio Storico del Ministero degli Affari Esteri, Roma, na ocasião das minhas pesquisas para tese de doutorado.
Para refletirmos sobre o tema "A imigração camponesa: elementos da cultura campesina", destaco a Parte 1.
"Geralmente, vinculamos memória apenas a lembrança, mas, por paradoxal que possa parecer, o esquecimento é um de seus fundamentos. Memória são vestígios do passado iluminados pelos olhares do presente. É passado selecionado de acordo com os interesses do hoje, com vistas a um futuro almejado. Ou seja, a memória, com suas lembranças e esquecimentos, é um ato político, inserindo-se no ambiente que determina as hegemonias, favorece as escolhas e respalda as decisões. E mais: a memória forja a identidade, ajuda a compor nossa consciência individual e coletiva.
Um esquecimento secular motivou este livro que temos a honra de apresentar aos capixabas e aos brasileiros em primeira tradução portuguesa da edição original italiana, de 1987. Para lembrar o que nunca havia sido lembrado na memória italiana, o sociólogo e jornalista Renzo M. Grosselli foi atrás das marcas deixadas no Brasil por seus co-nacionais durante as décadas finais do século XIX. Os vestígios recuperados compõem um quadro épico, revelam mais dos italianos, dos brasileiros e dos capixabas – enriquecem nossas identidades, históricas e contemporâneas". (por Paulo Hartung) |
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